Avaliação do editor

Um restaurante que vale por cada garfada levada à boca, pelos excelentes vinhos e pela simpatia dos seus colaboradores.

8
Ambiente
8
Atendimento
9
Comida
6
Preço/Qualidade
6
Localização

Se há lugares talhados para experiências gastronómicas inolvidáveis, onde os sentidos se misturam num nó cego de sabor e aroma, a Tasca do Celso é um desses lugares; é um incontornável templo dedicado à magia da gastronomia e uma vitrina que bem conserva o néctar tão amado pelo Deus Baco.

Escondido entre o casario da vila que dizem ter origem nas mil fontes e nascentes, o edifício impecavelmente caiado a branco e azul-cobalto, com duas enormes lousas penduradas à entrada, e onde as semelhanças com um típico espaço indecoroso só passam pelo nome, é ponto de passagem obrigatório para quem atravessa as águas mansas do estuário do Rio Mira.

Magicada com empenho e grande paixão, a afamada “Tasca” abriu portas há cerca de 11 anos pela mão do seu proprietário José Ramos Cardoso, conhecido nas redondezas por “Celso”, tal como seu pai já o fora. E se só mais recentemente a ideia do restaurante viu a luz do dia, é desde a mudança da família da região das Beiras para Milfontes, na década de 70, que o espaço – originalmente uma típica taberna com chão de terra – situado na mesma rua onde viveu, sempre despertou a atenção de José Cardoso. É quase como se de uma paixão à primeira vista se tratasse.

No interior da casa rústica, a decoração fá-lo esquecer por instantes os apetites do “bojo guloso” e convida-o a uma visita museológica do saber e tradição popular. À entrada, o visitante encontrará uma sala esguia com um enorme balcão forrado a pedra, onde desde logo se poderá entreter com um belo “vinho a copo”, enquanto espera pela vez. Seguindo para a esquerda, descobrirá a primeira sala de refeições do espaço, sem dúvida a mais interessante e intimista. Além da enorme lareira e das paredes imaculadamente brancas, ricas em peças e utensílios de origem agrícola, cuidadosamente recuperados, é de salientar as pedras de ardósia escritas a giz, que servem de menu gigante e as mesas cuidadosamente alinhadas, decoradas com loiça de barro e panos de cores garridas. Existe ainda uma segunda sala, mais desafogada e naturalmente iluminada, mas também sensatamente decorada e onde o “freguês” poderá observar in loco os segredos e as técnicas utilizadas no enorme assador, existente à entrada do espaço.

Ementa em lousa na Tasca do Celso
Lousa com lista dos petiscos do dia disponíveis.

Porém, a verdadeira arte museológica está na cozinha e nas especialidades que, além de dificultarem as escolhas, são um verdadeiro pesadelo para os “obstinados com a balança”. Para começar poderá optar por preciosidades como a linguiça com ovos mexidos, as amêijoas à tasca, a salada de búzios ou os mexilhões à espanhola. A salada de polvo ou queijo fresco intercalado em tomate, sobre uma “cama de alface” e temperado com orégãos, merecem igualmente uma atenção especial.

Seguem-se os “clássicos”, como o cabrito assado, as migas à alentejana, a cataplana de carne de porco, a costeleta de fundo de porto preto ou as muitas açordas. Já para os amantes do sabor do mar, o pregado grelhado com arroz de feijão, a massinha de cherne (quando disponível, a opção bacalhau é igualmente recomendável) ou o peixe fresco do dia para grelhar, são excelentes opções a considerar. Quero, contudo, dar especial destaque ao bife à la plancha (2 pax), que consiste num naco com 500g de carne extremamente tenra e suculenta, trinchado sobre uma tábua de madeira na sua presença, serviço com arroz de feijão, batata-doce, milho e tomate assados. É uma verdadeira iguaria que não o deixará indiferente.

A carta de vinhos é cuidada e apresenta múltiplas propostas – algumas verdadeiras preciosidades – provenientes das várias regiões demarcadas do país. A Casa Ferreirinha, Quinta do Crasto, Herdade do Mouchão ou Adega Cartuxa, da Fundação Eugénio de Almeida, são alguns dos produtores do magnânimo néctar que poderá encontrar e combinar com o manjar entretanto eleito.

Chegando às sobremesas, a Tasca do Celso volta a ser o local indicado para degustar os doces com origem tipicamente alentejana. Começando pela inigualável sericaia com ameixa de Elvas e passando pela encharcada, o pão de rala ou o bolo fidalgo, tudo lhe parecerá divinal e com uma frescura condizente. Os mais clássicos leite-creme e arroz doce merecem igualmente uma valente colherada.

Entrada da Tasca do Celso
Pormenor da sala de entrada.
Sala pequena na Tasca do Celso
Na decoração destacam-se o mobiliário rustico e os vários elementos de origem agrícola.