Avaliação do editor

Uma das casas mais prestigiadas da cidade de Viseu, cheia de receitas recolhidas por Dom Zeferino.

7
Ambiente
7
Atendimento
7
Comida
6
Preço/Qualidade
6
Localização

O restaurante “O Cortiço” é um dos restaurantes típicos mais afamados de Viseu e há razão para isso. São quase quatro décadas de história, onde as tradições e gastronomia beirãs se cruzam em direcção ao espaço fundado pelo mestre, infelizmente já desaparecido, Dom Zeferino: um gastrónomo de primeira linha, estudioso da cozinha e poeta popular. Durante grande parte da sua vida, Dom Zeferino, calcorreou quilómetros de caminhos em busca das receitas tradicionais da região, às quais deu o seu cunho pessoal e que mais tarde lhe valeram vários prémios nacionais e internacionais.

Situado na chamada zona histórica de Viseu – não muito longe da Sé Catedral –, o restaurante “O Cortiço” é um espaço original e de ambiente familiar. Distribuído por várias salas, conta com paredes em pedra granítica e lampiões de ferro forjado que, além de darem um toque especial à decoração, continuam a desempenhar o papel para que foram criados: a iluminação do espaço. Pormenor não menos interessante, são os milhares de manuscritos que pendem nas paredes e conferem uma personalidade muito típica ao espaço. Trata-se de mensagens de clientes escritas em papel, muitas das quais em guardanapos e toalhas utilizadas durante a refeição, com testemunhos e desabafos de quem aceitou embarcar numa aventura não só de sabores, mas também de estórias através da gastronomia regional beirã.

Depois de se sentar e enquanto sorri com os nomes que percorrem a farta ementa, sugiro que se entretenha com uma frigideira de enchidos, acompanhada por broa e um dos belos tintos que a região tem para lhe oferecer.

Voltando à ementa, acredito que a escolha não seja fácil, sobretudo com a profusão de nomes tão sugestivos como é o caso do pato no forno à Dona Cilinha de Viseu, dos rojões com morcela como fazem nas aldeias, das feijocas à maneira da criada do Sr. Abade, do polvo frito tenrinho como manteiga ou do cabrito assado no forno à pastor da serra. Se é a primeira vez que visita “O Cortiço” e não consegue eleger o prato que enfeitiçará as suas papilas gustativas, o coelho bêbado três dias em vida, o bacalhau apodrecido na adega ou o famoso arroz de carqueja, seguramente não serão motivos de desilusão.

Interior do restaurante cortiço
No interior destacam-se os milhares de mensagens deixadas pelos clientes.
Arroz de carqueja
O famoso arroz de carqueja é uma agradável surpresa para os mais desconfiados.

A paleta de vinhos, com particular relevância para a região demarcada do Dão, é extensa e com algumas verdadeiras preciosidades. O vinho da casa, encorpado, de sabor forte e rico em taninos de touriga nacional, é servido em jarros de madeira envelhecida, cintada com aros metálicos e a fazer lembrar pequenas pipas. Proveniente de uma quinta em Manqualde, o pujante néctar não só deverá fazer o deleite do Deus Baco, como tem tudo para surpreender os que ousarem emergir na tentação de o degustar.

Bacalhau apodrecido na adega
Bacalhau apodrecido na adega, é uma das iguarias que poderá degustar.